terça-feira, 23 de julho de 2019

Morte marginal


Poucos choram a morte de um criminoso, alguns choram a morte de quem se prostitui, alguns choram por viciados, pelos que fazem opções de vida com menor aceitação social ou que por sua aparência ou atitude desagradam.
Apesar disso eles continuam aparecendo, existindo e morrendo, em número cada vez maior.
Por mais que a sociedade insista em excluir suas exceções, até mesmo pela morte, elas parecem se multiplicar!
Não é aparência.
Não é uma novidade.
Por que com todo avanço intelectual, das ciências, e mesmo das religiões, o problema de lidar com os “desajustados”, continua sem solução real?
         Talvez seja porque é da lei natural a variedade, talvez seja apenas pelo preconceito, admitamos que estes não são o maior problema da sociedade humana para ser digno de ter sábios debruçados sobre ele, mas, vemos estampados nos noticiários que estes “diferentes”, erguidos à condição de exemplo com tanto alarde dos seus “feitos”, crescem em número, absurdamente, já que são exceções, lotando sistemas carcerários e filas de execução, casas de saúde e sistemas tanto judiciários quanto previdenciários.
         Não, não dá para esconder que para manter o poder e o dinheiro nos mesmos círculos, ou para forçar uma mudança com base na insatisfação ou na revolta estamos permitindo que tais males se alastrem.
         Seria problema só dos que detêm o poder e o dinheiro?!
         Seria problema só dos pobres, dos sem cultura ou de qualquer regra de exceção tão em moda, sobretudo nos discursos e na mídia?
         O problema é de todos, toda a humanidade!
         Sou totalmente a favor dos direitos humanos, mas, é preciso ter percepção de que eles precisam começar a ser defendidos no berço.
         Nossa sociedade hiperprodutiva tem criado órfãos de pais vivos, delegado à educação acadêmica os deveres da educação social que é da alçada familiar.
         Esperar que isso funcione é jogar milênios de experiência fora!
         Como não haveria um aumento dos problemas sociais?!
         As “exceções” continuarão a crescer, sem as escoras familiares.
         São fruto natural do desespero, da falta de limites, da falta de possibilidades, da falta de amor vivenciado.
         É fácil para mim chorar pelos deficientes, pelos deformados, que frequentemente nada têm dos recursos que a ciência já conquistou, e que poderia reduzir muitíssimo seus padeceres e de seus familiares.
         É fácil chorar de raiva e revolta pelos danos que determinadas deformidades morais causam neste mundo, mas, conforme avanço em minhas buscas, dá para chorar por saber que tantos recursos realmente transformadores sequer chegarão até os que querem e podem sair do desequilíbrio.
         Chorar por saber que antes de alguém morrer por seu próprio desequilíbrio, a humanidade dispunha dos recursos salvadores e nada fez para estende-los.
         Este texto não é para que haja misericórdia para quem já escolheu ser “exceção”, é para que se multipliquem os olhos e mãos em socorro e amparo aos que tateiam nas sombras de si mesmos necessitados de uma fagulha de esperança.
         Olhem para as almas ao redor!
         Identifiquem quem será salvo da morte!
         Uma palavra, um sorriso, o simples ato de ouvir, fazem a diferença entre um suicídio, um assassinato, uma vida na cadeia, uma cama de hospital, um dano irreparável, um vício para toda vida, e a felicidade e progresso desejado.
         Porque depois será tarde, para evitar mais uma morte marginal.

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